
Mais do que pelas paradas, desfiles e festas em Paris, sou tocado pela acção em si.
Sob o ponto de vista castrense, a prisão da Bastilha tinha boas condições: Paredes de mais de 20 m de altura, fosso envolvente, artilharia e uma guarnição de mais de 100 homens, todos já soldados experimentados.
Tinha munições, não era batida por posições superiores...
Não consta que os revoltosos fossem bem preparados ou bem armados.
Afinal de contas as massas atacaram, para libertar os 7 ou 8 prisioneiros, ou em desespero pela fome , pela "
Taille", tolhidos pela servidão, para conquistarem direitos que lhes eram negados por um estado caduco e corrupto?
(Também não consta que os prisioneiros fossem lideres galvanizadores, pelos quais as massas se tivessem dispostas a fazer martirizar. )
Da acção
destemida do povo de Paris, veio a nascer um conceito novo de cidadania.
Mas os valores de Liberdade, Fraternidade e Igualdade, bem como a carta dos direitos do homem e do cidadão, acabam por ser chutados para um qualquer canto por governantes
venais.
Transpondo para os dias actuais, há quem pense, mercê do estarmos no
sec. XXI incluídos na CE, da impossibilidade de se repetirem tais eventos.
Pesembora a distancia do tempo, é só deixar correr a desagregação do estado, a impunidade dos grandes interesses e do grande capital, que logo surgirá terreno fértil para uma nova turba de
deseperados que nada tem a perder, se lançarem ao assalto...
Desempregados, famílias famintas, doentes, idosos e veteranos esquecidos, quando já nada mais houver a perder, irão marchar sobre os representantes deste poder corrupto.
Cansados de pedir trabalho e pão, passaram a exigir justiça!
Também a impunidade dos pequenos delinquentes, ou a certeza da mesma, poderia neste campo de
hipóteses fazer pender para o lado errado a balança.
Um vez mais, assistir-se-ia há a impassibilidade dos guardas e militares, que mal pagos certamente não iriam verter sangue na defesa de quem lhes rouba o pré, lhes chora e rareia nos direitos adquiridos e nas reformas...
A miséria provoca motins e manifestações, que poderão gerar revoluções; França era "um estado pobre num pais rico"..
Não se confunda Bravura com coragem...O destemor é irmão do desespero!
Parece que há quem nunca aprenda com os erros do passado...e continue a sugerir a quem não tem pão...que coma ..."Banda larga..."
PostScript : Os soldados Paraq
José de Jesus Lourenço (nascido a 20 de Julho de 1953 na freguesia de Cadima, concelho de Cantanhede),
Manuel da Silva Peixoto (24 de Janeiro de 1951, na freguesia de Gião, concelho de Vila do Conde) e
António Neves Vitoriano (14 de Fevereiro de 1952, freguesia e concelho de Castro Verde), morreram a 23 de Maio de 1973 , durante uma emboscada junto a Guidaje, norte da Guiné-Bissau. Os restos mortais chegam a Lisboa na noite de sexta-feira.
Descansem em paz!